Lula Shouldn’t Buckle to U.S. Pressure on Iran

President Lula da Silva has come under fire from opponents lately for refusing to join the United States’ campaign for increased sanctions against Iran.  Washington recently switched from a brief phase of “engagement” with Iran over its nuclear program to the more aggressive posture of threats and confrontation that had been the strategy of the Bush administration.  Lula has argued that this is counter-productive.

Sao Paulo governor Jose Serra’s recent op-ed summarizes the arguments against Lula.  He attacks Lula for receiving President Ahmadinejad of Iran, saying his election was “notoriously fraudulent,” his government is repressive, and he is a holocaust denier.  Actually the first charge is extremely implausible, as anyone who has looked at the evidence knows.  The margin of victory in that election was eleven million votes, and there were hundreds of thousands of witnesses to the vote count at the precinct level.  The results were also consistent with both pre-election and post-election polling.

The Iranian government is certainly repressive, although arguably no more so than U.S. allies such as Egypt, which has lately been arresting hundreds of opposition activists and candidates in order to keep them out of the fall election.  And Lula has strongly condemned Ahmadinejad’s denial of the holocaust.

Should Lula refuse to meet with Hillary Clinton, who strongly supported the invasion and occupation of Iraq?  This completely unnecessary war has killed more than a million people, according to the best estimates.  That is also a crime, as are the continued killings of civilians in Afghanistan by U.S. forces.

Lula meets with all sides to the dispute because he is trying to play a mediating role, and to prevent another unnecessary war.  That is what mediators do.  The Obama team, like that of President George W. Bush, has trouble understanding this concept.  They have a “Godfather” approach to international relations: “we will make you an offer you can’t refuse.”

Lula has an opposite approach, which may come from his experience as a trade union leader: he looks for dialogue, negotiation, and compromise to resolve conflict.

Serra also attacks Lula for refusing to recognize the government of Honduras, which was elected under a dictatorship, while meeting with Ahmadinejad.  But the two situations are not comparable: the military overthrow of Honduras’ elected government is a threat to democracy in all of Latin America; Iran is not.  Brazil cannot influence the internal politics of Iran; whereas Latin America has regional agreements and policy co-ordination that can support democracy and prevent further military coups in the hemisphere.  The only common theme here is that Lula is refusing to surrender to Washington’s foreign policy priorities.

The pundits could not foresee that the Workers’ Party, bringing a former factory worker to the presidency, would have advanced Brazil farther than any prior government as a leader on the world diplomatic stage.  But Lula has become one of the most respected leaders in the world, and therefore has a unique potential to help resolve some of the world’s most serious political conflicts.

It was predictable that Lula would take heat for standing up to the U.S.; once Washington begins a campaign against a demonized government, the vast majority of the international media jumps on the bandwagon, and anyone who gets in the way of it will pay a price.  This is true regardless of whether the government is a repressive theocracy, like Iran, or a democracy such as Venezuela or Honduras before the June coup.  Lula has taken a principled position in all of these cases, and one that is in the best interests of not only Brazil but of humanity.  We citizens of the United States particularly appreciate his efforts to help keep us out of another senseless war, as our own civil society and democratic institutions have too often not been strong enough to do so.

The world needs this kind of leadership — badly.

Lula não deve ceder à pressão dos EUA

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem sendo criticado recentemente por adversários por negar-se a participar da campanha dos Estados Unidos pela adoção de sanções intensificadas sobre o Irã.

Recentemente Washington passou de uma breve fase de “engajamento” com o Irã em torno do programa nuclear iraniano para a atitude mais agressiva de ameaças e confrontos, que foi a estratégia seguida da administração Bush.  Lula vem argumentando que isso é contraproducente.

O artigo “Visita indesejável” do governador de São Paulo, José Serra, resume os argumentos apresentados contra Lula.  Serra ataca Lula por ter recebido Ahmadinejad, dizendo que a eleição do presidente iraniano foi “notoriamente fraudulenta”, que seu governo é repressivo e que ele nega a existência do Holocausto.

Na realidade, a primeira acusação é extremamente implausível, como sabe qualquer pessoa que tenha examinado as evidências.  A margem de vitória foi de 11 milhões de votos e centenas de milhares de pessoas testemunharam a contagem.  Os resultados foram condizentes com as pesquisas de intenção de voto e com as pesquisas de boca de urna.

Não há dúvida de que o governo iraniano é repressivo, embora se possa argumentar que não é mais repressivo do que o de certos aliados dos EUA.

É o caso do Egito, que ultimamente vem prendendo centenas de ativistas e candidatos oposicionistas para afastá-los da próxima eleição.

Quanto à negação do Holocausto por parte de Ahmadinejad, vale lembrar que Lula a condenou fortemente.

Deveria Lula recusar um encontro com Hillary Clinton, que apoiou a invasão e a ocupação do Iraque?  Essa guerra completamente desnecessária já matou mais de 1 milhão de pessoas, segundo as estimativas mais confiáveis.  Isso é crime, assim como o são as mortes contínuas de civis cometidas por forças dos EUA no Afeganistão.

Lula se reúne com todos os lados na disputa porque está tentando exercer um papel de mediador para impedir outra guerra desnecessária.  É isso o que fazem os mediadores.  A equipe de Obama, assim como a do presidente George W. Bush, tem dificuldade em compreender esse conceito.  Ela adota uma abordagem “Poderoso Chefão” para as relações internacionais: “Vamos lhes fazer uma oferta que vocês não poderão recusar”.

A abordagem da equipe de Lula é oposta, algo que pode dever-se a sua experiência sindical: ele procura o diálogo, as negociações e as concessões, visando solucionar conflitos.

Serra também ataca Lula por ter se recusado a reconhecer o governo de Honduras, eleito sob uma ditadura, ao mesmo tempo em que se reunia com Ahmadinejad.

As duas situações, entretanto, não são comparáveis: a derrubada militar do governo hondurenho eleito é uma ameaça à democracia em toda a América Latina, enquanto o Irã não o é.  O Brasil não pode influenciar a política interna do Irã.  Já a América Latina tem acordos regionais e uma coordenação de políticas capazes de subsidiar a democracia e prevenir a ocorrência de mais golpes militares no hemisfério.

O único tema comum aqui é a recusa de Lula em render-se às prioridades de Washington.  Os especialistas não poderiam ter previsto que o Partido dos Trabalhadores, conduzindo um ex-operário de fábrica à Presidência, pudesse ter feito o Brasil avançar como líder no palco diplomático mundial mais que qualquer governo anterior conseguiu.

Mas Lula se tornou um dos líderes mais respeitados do mundo e, por essa razão, possui potencial singular de ajudar a resolver alguns dos conflitos políticos mais sérios do planeta.

Era previsível que Lula fosse criticado por opor resistência aos EUA.  Assim que Washington lança uma campanha contra um governo satanizado, a imensa maioria da mídia internacional adere a ela, e qualquer um que se opuser no caminho pagará um preço.  Isso se aplica independentemente de o governo em questão ser uma teocracia repressiva, como o Irã, ou uma democracia, como Venezuela ou Honduras antes do golpe de junho.

Em relação a todos esses casos, Lula vem assumindo uma atitude pautada por princípios e que atende aos interesses mais verdadeiros não apenas do Brasil, mas da humanidade.

Nós, cidadãos dos Estados Unidos, apreciamos particularmente seus esforços para nos manter fora de mais uma guerra insensata, já que nossa própria sociedade civil e nossas instituições democráticas tão frequentemente não têm sido fortes o suficiente para fazê-lo.

O mundo precisa desse tipo de liderança — precisa seriamente dela.


Mark Weisbrot is co-director of the Center for Economic and Policy Research, in Washington, D.C.  He received his Ph.D. in economics from the University of Michigan.  He has written numerous research papers on economic policy, especially on Latin America and international economic policy.  He is also co-author, with Dean Baker, of Social Security: The Phony Crisis (University of Chicago Press, 2000) and president of Just Foreign Policy.  The Portuguese version was published in Fohla de São Paulo, Brazil’s largest circulation newspaper, on 21 March 2010.  The English version was published by CEPR on 24 March 2010 under a Creative Commons license.




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